Eu sei muito bem o quanto pode ser desafiador garantir que nossos filhos recebam todos os nutrientes necessários quando temos que excluir certos alimentos da dieta, especialmente quando se trata de uma condição como a APLV (Alergia à Proteína do Leite de Vaca). Imagina tirar um alimento tão importante, de alto valor biológico, fonte de inúmeros nutrientes essenciais para as crianças e um deles, o cálcio?
Como mãe de duas meninas que passaram (uma delas ainda passa) por essa jornada, posso afirmar que uma das minhas maiores preocupações sempre foi garantir que não faltassem nutrientes suficientes na ausência dos alimentos por conta da dieta de restrição. Imagino que uma das suas grandes preocupações seja essa também, a de assegurar que seu filho ou sua filha cresça forte e saudável, mesmo sem consumir leite e seus derivados. E, entre os nutrientes mais essenciais, a gente aprende que o cálcio sempre se destaca. Mas como podemos garantir que as crianças com APLV obtenham a quantidade necessária de cálcio? Vamos compartilhar algumas soluções que deram certo aqui em casa, baseadas na ciência e em minha experiência pessoal.
O Desafio do Cálcio Sem Leite: Como Superar
Quando minha filha mais velha, a Camila, foi diagnosticada com APLV, uma das primeiras coisas que a nutricionista me alertou foi sobre a importância de garantir cálcio suficiente, já que o leite de vaca é uma das fontes mais ricas desse mineral. Mas como substituir essa fonte fundamental sem comprometer a saúde dos ossos e dentes dos pequenos? Para quem não sabe, o cálcio é vital para o crescimento ósseo, a saúde dentária e o funcionamento de músculos e nervos. Por isso, é essencial que as crianças com APLV recebam cálcio de outras fontes alimentares e que sejam suficientes de acordo com as recomendações para a idade.
Fontes de Cálcio Fora do Leite: Alternativas Práticas
- Leites Vegetais Fortificados
Os leites vegetais têm sido uma salvação em nossa casa (até hoje, porque a minha filha mais nova não é fá de lácteos, mesmo já estando curada da APLV, e consome este tipo de bebida – amêndoas e aveia). Eu sempre escolho versões fortificadas com cálcio, como o leite de amêndoas ou de aveia (fica de olho nos rótulos). Esses leites podem substituir o leite de vaca em vitaminas, receitas de bolos, ou mesmo na simples mistura com cereais.
Dica prática:
- Comecei a dar para Camila e Luiza o leite de amêndoas ou aveia fortificado com cálcio logo no café da manhã. Elas adoram, e é uma maneira simples de incluir o mineral no início do dia. No entanto, é importante ter em mente que a biodisponibilidade do cálcio pode ser afetada por outros nutrientes presentes na refeição. O cálcio, por exemplo, tem uma “briga” com o ferro pela absorção no organismo. Quando consumidos juntos, esses dois minerais competem, e isso pode diminuir a quantidade de cálcio absorvida, especialmente se houver fontes de ferro heme (proveniente de carnes vermelhas, por exemplo) na mesma refeição.
- Por isso, evito oferecer alimentos ricos em ferro heme no mesmo horário em que as meninas tomam o leite de amêndoas, como carnes vermelhas ou vísceras. Em vez disso, prefiro planejar os horários das refeições para garantir que elas consigam absorver o máximo de cálcio possível. Uma excelente estratégia é consumir o leite de amêndoas ou alimentos ricos em cálcio no café da manhã, e deixar as fontes de ferro para o almoço ou jantar.
- Além disso, fontes de ferro não heme, como leguminosas e vegetais, podem ser combinadas com alimentos ricos em vitamina C (como laranja ou morangos) para melhorar a absorção do ferro, sem prejudicar a absorção do cálcio.
Essa estratégia ajuda a otimizar a absorção dos dois nutrientes, garantindo que as necessidades de cálcio e ferro sejam atendidas sem interferência entre eles.
- Vegetais de Folhas Verdes
Verduras como couve, espinafre e brócolis são ricas em cálcio. Embora o cálcio desses alimentos não seja absorvido da mesma forma que o leite, eles ainda são uma ótima fonte desse mineral e podem ser incluídos com facilidade em diferentes refeições.
- Dica prática: Eu gosto de fazer refogados de couve ou incluir brócolis no arroz ou mesmo brócolis no vapor com tomate cereja e uma torta de legumes para acompanhar. As meninas adoram, e é uma maneira rápida e fácil de garantir cálcio!
- Tofu e Tempeh
O tofu, especialmente quando feito com cálcio, é uma excelente fonte de cálcio e pode ser uma ótima alternativa para crianças com APLV. Além disso, o tempeh, que é feito de soja fermentada, também contém boas quantidades de cálcio.
- Dica prática: Você pode preparar o tofu mexido com especiarias e servir como substituto do ovo. As meninas curtem, principalmente a Mila, e é uma maneira de incluir mais cálcio nas refeições.
- Frutos Secos e Sementes
Frutos secos, como amêndoas, e sementes de gergelim e chia são ricos em cálcio. Elas podem ser usadas como petiscos ou adicionadas em bolos, smoothies e até nas saladas.
- Dica prática: Sempre que preparamos um bolo de amêndoas ou até um cookie, adicionamos sementes de chia e amêndoas, dando mais cálcio e deixando a receita ainda mais nutritiva. Também utilizamos por cima das frutas de maneira regular.
- Leguminosas
Feijão, lentilha e grão-de-bico são opções fantásticas que, além de ricas em cálcio, oferecem outras vitaminas e minerais essenciais para a saúde das crianças. Esses alimentos são incrivelmente versáteis e podem ser usados em uma infinidade de receitas.
- Dica prática: Uma das receitas favoritas da Camila e da Luiza é feijão preto com arroz integral, uma combinação rica em cálcio e fibras. A gente brinca e diz que é a “elite da nutrição” por conter todas as fontes de proteínas essenciais nessa combinação perfeita, além de outros nutrientes, do cálcio e das fibras, claro.
- Frutas Como Laranjas e Figos Secos
Surpreendentemente, algumas frutas como laranjas, kiwis e figos secos também são boas fontes de cálcio. Elas podem ser consumidas sozinhas ou misturadas em saladas e sobremesas.
- Dica prática: Saladas de frutas com laranja e kiwis são uma opção deliciosa para o lanche da tarde! Aqui como moramos no Nordeste e é calor o ano inteiro, sempre faz sucesso.
A Importância da Suplementação de Cálcio
Em alguns casos, quando a ingestão de cálcio não é suficiente com a dieta, a suplementação pode ser uma opção a ser considerada. A recomendação de um profissional de saúde, como um nutricionista especializado em alergias alimentares, ou um bom pediatra geral com essa expertise é essencial para determinar a necessidade de suplementos e a dosagem correta para cada criança. A nossa nutricionista tem cuidado atentamente deste ponto e sempre lembra que a suplementação só deve existir quando existe uma lacuna entre a ingestão de alimentos e / ou alguma questão orgânica que possa estar acontecendo junto da alergia ao leite (por exemplo, alguma doença do intestino doente, alguma questão como a má absorção de nutrientes). Portanto, hoje na ciência não existe um guideline ditando um “protocolo padrão” para suplementação com cálcio para crianças com alergia ao leite. Ou seja, o bom senso deve imperar de procurarmos bons profissionais de saúde para nos apoiarmos na jornada, que façam uma boa avaliação clínica, nutricional, com anamnese criteriosa, muitas vezes vai ser necessário a solicitação de exames complementares para que se haja uma orientação adequada sobre se a ingesta alimentar é suficiente para com as quantidades ideais de cálcio e a melhor forma de suplementar quando necessário.
Como Garantir o Desenvolvimento Ósseo de Seu Filho?
O desenvolvimento ósseo adequado é uma preocupação central para qualquer criança, mas para aquelas com APLV (Alergia à Proteína do Leite de Vaca), garantir uma ingestão adequada de cálcio e outros nutrientes essenciais torna-se ainda mais crucial. A falta de cálcio pode levar a sérios problemas no futuro, como osteoporose, e até afetar o desenvolvimento dentário. Além disso, a interação de nutrientes como cálcio, ferro, vitamina D e fósforo desempenha um papel significativo na absorção e eficácia desses minerais para o fortalecimento dos ossos.
A Importância do Cálcio e da Vitamina D
O cálcio é o principal mineral encontrado nos ossos, e é fundamental para seu desenvolvimento e fortalecimento. Para garantir que as crianças com APLV recebam o cálcio suficiente, especialmente quando precisam evitar o leite, é importante incluir alternativas ricas em cálcio, como leites vegetais fortificados (amêndoas, soja, etc.), vegetais de folhas verdes escuras, tofu e sementes.
A vitamina D é igualmente importante, pois ela facilita a absorção do cálcio pelo corpo. No entanto, a vitamina D não é encontrada em muitos alimentos, e a maior parte é produzida pela pele quando exposta ao sol. No entanto, para crianças com APLV, a exposição solar moderada pode ser insuficiente, o que exige a inclusão de alimentos fortificados com vitamina D ou a suplementação, sempre com a orientação médica.
A Competição entre Minerais e Nutrientes
Quando falamos de absorção de cálcio, não podemos deixar de mencionar a interação com outros nutrientes. Por exemplo, o ferro, especialmente o ferro heme (presente em carnes), que pode reduzir a absorção de cálcio quando consumido na mesma refeição. Da mesma forma, o excesso de fósforo (sim, aqueles que tem nos refrigerantes) ou de fitatos (aqueles dos feijões), presentes em alguns alimentos integrais, também pode diminuir a biodisponibilidade do cálcio.
Por isso, além de escolher alimentos ricos em cálcio e vitamina D, é importante organizar as refeições para que a absorção de cada nutriente seja otimizada. Como mencionei anteriormente, evite oferecer alimentos ricos em ferro heme, como carnes, no mesmo horário do leite de amêndoas, por exemplo. Por isso, não deixe de procurar uma nutricionista com muita expertise em alergias alimentares e APLV para te ajudar na jornada.
Monitorando o Desenvolvimento Ósseo e Dentário
Com relação ao desenvolvimento ósseo, é fundamental acompanhar o crescimento da criança de forma regular. Visitas periódicas ao pediatra são indispensáveis para garantir que o desenvolvimento está sendo saudável. O pediatra pode solicitar exames de densidade óssea se houver suspeita de deficiência ou atraso no desenvolvimento, além de avaliar o crescimento em termos de peso e altura.
Além disso, a deficiência de cálcio pode afetar também os dentes, levando a problemas como o enfraquecimento do esmalte dentário, que pode resultar em cáries, dentes fracos ou malformações. É por isso que é importante investir em uma dieta equilibrada, tanto para a saúde óssea quanto para a dentária, de forma que sua criança se desenvolva de maneira saudável e segura.
Dica prática
Eu sempre me preocupo com o acompanhamento médico regular para garantir que minhas filhas, Camila e Luiza, estão indo bem no desenvolvimento ósseo. Falar com os médicos e a nutricionista sobre o desenvolvimento delas e buscar realizar exames de rotina é algo que faço regularmente. Isso ajuda a garantir que não estamos apenas cuidando da alimentação delas, mas também acompanhando o impacto dessa alimentação no crescimento e na saúde geral.
Fico atenta também à saúde bucal, buscando incluir alimentos ricos em cálcio, como tofu, brócolis e amêndoas, e sempre fico em alerta para qualquer sinal de problemas nos dentes, que, no caso da APLV, podem ser um reflexo de uma dieta deficiente em certos minerais.
Assim, garantir o desenvolvimento ósseo adequado de uma criança com APLV envolve não apenas escolher os alimentos corretos, mas também monitorar de perto o impacto dessa dieta na saúde geral da criança. Uma dieta bem equilibrada, a consulta com especialistas e exames de rotina são fundamentais para um crescimento saudável.
Garantir que crianças com APLV recebam cálcio suficiente pode ser desafiador, mas com uma abordagem planejada e criativa, é possível. Leites vegetais fortificados, vegetais de folhas verdes, tofu, leguminosas, frutos secos e sementes são apenas algumas das alternativas deliciosas e nutritivas que podemos oferecer.
Aqui em casa, o segredo foi manter a variedade e fazer com que cada refeição fosse saborosa e saudável ao mesmo tempo. Sempre consultando médicos e nutricionista para garantir que a alimentação das meninas seja equilibrada e atenda todas as suas necessidades nutricionais.
Com dedicação e um pouco de criatividade, você também pode garantir que seus filhos cresçam saudáveis e fortes, mesmo em uma dieta livre de leite!
Com amor,
Ju Jordán